QUADRADO

por Márcia Cattoi

A ótima edição de capa dura tem bordas arredondadas, boas fontes e boa diagramação. Apresenta ilustrações aquareladas, quase monocromáticas, de onde se destacam os olhos dos dois personagens. Estes são figuras geométricas nominalmente planas, quadrado e círculo, de forma a brincar com a nossa relação com o papel, o formato do livro (quadrado), a bidimensionalidade da ilustração X a tridimensionalidade do mundo.

quadrado

 

O texto é acessível e pode trazer uma reflexão sobre o trabalho (nos dois sentidos, do fazer como ofício e do feito em si), inclusive o artístico. O personagem Quadrado vive numa caverna e realiza a monótona tarefa de empurrar blocos de pedra morro acima. Tudo muda quando sua amiga que flutua, a Círculo, julga seu objeto cotidiano uma escultura. Dá-lhe uma nova tarefa e considera-o um gênio! Ao final, os autores suscitam dúvida a respeito desta afirmação, com uma indagação para o leitor resolver. De fato há mais perguntas do que respostas nesta obra. O que os autores estão questionando no final? Há diferentes visões sobre a mesma coisa? O que é ser genial? Quem decide o que é arte e o que não é? Por que o objeto artístico é significativo? Só na arte fazemos conexões com nossos repertórios? E diante de uma conexão feita, não importa a materialidade? Uma obra de arte produzida por acaso continua sendo arte? Ufa, são muitas questões…

Seja como for, artístico ou fortuito, experimentar/confrontar a ótica do outro é sempre enriquecedor e nos faz flutuar ou, ao menos, sair da “caverna”.

QUADRADO

de Mac Barnett e Jon Klassen

Ed. Salamandra, 2018.