o caderno do jardineiro

por Tanira Piacentini

caderno

É um caderno plantado por um jardineiro de palavras e imagens? Ou é um jardim plantado e florindo no caderno do jardineiro? E que jardineiro é esse, capaz de num traço, gesto, cor ou palavra suspender significados e nos permitir passear num universo de delicadezas, penetrar nos meandros de ecos e correspondências, surpreender-nos no reconhecimento de nossa e de todas as existências?

A poesia começa na capa, de uma simplicidade comovente, limpa e singela. E frequenta as folhas seguintes, sentidos suspensos nas poucas e leves ilustrações. E cai em cheio à maneira de prefácio, no qual recebemos a ausência da flor – que se presentifica na generosidade do gesto. Na página seguinte, a poesia passeia sobre o significado das cores: amar ello / ver-me-yo / a su lado – e a seu lado, página anterior, cores em flores sobrepostas como versos em tons correspondentes. Entre o que foi dito e o que foi apresentado, o não dito esplende e se apresenta: o nome da flor: amor-perfeito. Não ficou claro? É sempre assim, quando a gente tenta dizer poesia em jeito de prosa, afugenta a graça. Por isso, corra à fonte, são mais 24 flores-poemas numa terra tratada a cor e poesia.

Diz a contracapa que este é o primeiro volume de poemas de Angela-Lago. De poemas, sim, não de poesia, pois todos sabemos que ela vem poetando desde muito longe, escrevendo, ilustrando, traduzindo, plantando. E oferta agora cores, perfumes, deslumbramentos plantados nesse lindo caderno-canteiro, onde o supérfluo é descartado ou decantado, havendo ainda lugar para poemas em raiva ou em riso de desprazer. O jardineiro não permite que esqueçamos ser sempre possível que apareçam bois em nossos quintais.

O caderno do jardineiro

Angela Lago

SM, 2016

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